
Por Rodrigo Szymanski
Os setores conservadores católicos frequentemente atacam e boicotam a Campanha da Fraternidade porque ela tem como missão principal despertar a consciência social e promover a reflexão crítica sobre os problemas do mundo. Embora não realize mudanças estruturais diretas, a Campanha cria espaços de diálogo e estudo, permitindo que os fiéis enxerguem a realidade com um olhar mais atento às desigualdades e injustiças. Esse convite à reflexão incomoda aqueles que preferem uma vivência da fé descolada das questões sociais e que buscam preservar uma visão tradicionalista e imutável da Igreja.
Muitos desses grupos conservadores defendem um catolicismo baseado exclusivamente em práticas devocionais, como a oração do terço ou sacrifícios pessoais, sem um compromisso real com a transformação da sociedade. O problema não está na oração em si, mas na tentativa de impedir que os fiéis questionem e analisem criticamente o mundo ao seu redor. A Doutrina Social da Igreja, no entanto, enfatiza que a fé cristã exige um compromisso concreto com a justiça e a dignidade humana. O Papa Francisco reforça essa ideia ao afirmar que “uma fé autêntica […] sempre envolve um profundo desejo de mudar o mundo, de transmitir valores, de deixar algo melhor depois da nossa passagem pela terra” (Evangelii Gaudium, n. 183).
Jesus, em seu ministério, esteve constantemente em confronto com as estruturas de poder e em solidariedade com os marginalizados — as viúvas, os doentes, os estrangeiros. O próprio Evangelho testemunha essa postura: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos” (Lc 4,18). O cristianismo genuíno não pode ser reduzido a uma espiritualidade alienada, mas deve se encarnar na vida concreta das pessoas, denunciando injustiças e promovendo a dignidade humana.
Os ataques à Campanha da Fraternidade revelam, no fundo, um medo do pensamento crítico e da transformação que ele pode gerar. No entanto, a fé cristã, quando vivida em sua plenitude, não se restringe ao templo ou às práticas individuais, mas se expressa no compromisso com a construção de um mundo mais justo e fraterno. Afinal, como disse São João Crisóstomo: “Queres honrar o corpo de Cristo? Não o desprezes quando está nu. Não o honres aqui no templo com tecidos de seda, para depois deixá-lo padecer frio e nudez lá fora.”
Rodrigo Szymanski é Professor de história da rede estadual de SP; Mestre em educação.